segunda-feira, 23 de junho de 2014

D. Pedro IV

Fanecas Frescas, fritas… Fiadas!
Episódio passado em Pedras Rubras

 
No dia 8 de Julho de 1832, desembarcaram 7500 tropas, na praia de Pampelido da freguesia de Lavra, Matosinhos. Eram tropas fieis ao liberalismo e a D. Pedro IV , rei de Portugal e Imperador do Brasil.
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O rei e o almirante Rose George Sartórios tinham por objectivo libertar a Pátria do “absolutismo” de D. Miguel e, implantar o “liberalismo” que se regeria por ideais democráticos já consignados na Constituição de 1822.


A 7 de Julho de 1832 a esquadra liberal passara à vista do Porto e dirigiu-se para Norte.
Em Vilar o telégrafo deu a notícia. O temor invadiu a cidade e logo os miguelistas fugiram. À noite os tambores tocaram a rebate pelas ruas da cidade em sinal de perigo, porém a esquadra continuou viagem.
Estas forças expedicionárias foram depois conhecidas pelos “ 7.500 Bravos do Mindelo”.
Tinham partido dos Açores, da Ilha Terceira e passado por S. Miguel. Vinham embarcadas em vários navios, sendo um deles a vapor.
Tentaram desembarcar na foz do Ave em Vila do Conde, o que não lhes foi consentido pelo brigadeiro José Cardoso de Meneses, obrigando-a a rumar para Sul ao encontro de local propício ao desembarque.
A esquadra, deslocando-se para Sul passara junto à costa, bem conhecida do comandante que sabia da existência de uma praia que oferecia as condições necessárias.
Diz-se que foram os conhecimentos que possuía da costa, que levaram a optar pela Praia de Pampelido, também conhecida por «Praia da Arenosa», “Praia dos Ladrões” e hoje “Praia da Memória”.


O desembarque em Pampelido começou pelas duas horas da tarde.
Pelas seis horas desembarcou D. Pedro que ordenaria um movimento de flanco sobre
Pedras Rubras. Pelas 8 horas da manhã entrava D. Pedro; e aí ficaram acampados no largo de Pedras Rubras.
D. Pedro procurou onde pernoitar e, ficou instalado, com o seu estado-maior, em casa do lavrador Andrade, onde existe uma placa voltada para a rua. Aí se lê que ali pernoitara D. Pedro IV.
Diz-se que os lavradores de Pedras Rubras fizeram grande negócio vendendo produtos alimentares e outros bens ao Exercito.
Para comer indicaram a D. Pedro uma adega próxima. O rei, ao entrar na taberna aparentava ser um oficial embarcado há muitos dias; cabelo comprido, mal cuidado e barba de oito dias.
O oficial perguntando o que havia para comer, foi-lhe dada resposta apontado somente um letreiro em que se viam (3 efes) f. f . f ., sem mais.
«- Mas… o que vem a ser isso? Perguntou o oficial.
«- Há peixe de “três efes”!»
«- Mas… que diabo de peixe vem a ser esse?»
«- Fanecas, frescas, fritas! Respondera o taberneiro»
«-Se não há mais nada, saíam as fanecas! Vamos nas fanecas». Respondera o oficial!
As fanecas frescas, vieram para a mesa, com pão e vinho.
Quando chegou a hora de pagar o oficial deu falta da carteira, apercebendo-se de que não tinha com que pagar.


Pediu que lhe trouxessem o pincel e a tinta com que tinham pintado o letreiro e logo manda que o tasqueiro acrescentasse outro ( f ).
«- Outro “F “ ? Quatro “efes”? Que quererá isso dizer!
«- Fiadas!
Retrucou o oficial.
« - Fanecas, frescas, fritas e fiadas!»
As fanecas eram tidas como sendo melhores comidas frias. Eram fanecas fritas com antecedência e deixadas no “mosqueiro” á espera de cliente. O oficial gostou das fanecas e entendeu que lhe serviram um bom petisco!
Sabe-se lá há quanto tempo já, não comia coisa que se visse?
«- Fiadas! Quero dizer que não tenho com que lhe pagar!
«- Esteja Vossa Excelência à vontade. – Resposta prudente do tasqueiro. «- Pagará quando por cá voltar!
«- Nem sei se voltarei!
O tasqueiro ficou «sufocado» com a partida do “fiado”, que não esperava. Esperava ver o seu dinheiro.


No dia seguinte o oficial voltou á taberna. e perguntou pelo patrão.
«- Patrão sou eu.» Responde um mocetão lá de dentro. - Não sou patrão mas é como se fosse. Vou casar com a filha dele!»
«- Então toma lá! Aqui tens duas libras para comprar um par de arrecadas para a tua noiva!
A partir daí a tasca ficara a ser muito conhecida e celebre pela história dos «três “efes.”


A estadia do Exército por Pedras Rubras tivera curta duração.
À partida o Povo delirou ao ver as tropas desfilar na direcção do Porto, em ordem, com tambores e fanfarra, à frente.
No dia seguinte, D. Pedro IV entrava na Praça Nova, no Porto, pelas oito horas da manhã.
A Praça Nova, recordando o “liberalismo” passou a chamar-se “Praça da Liberdade” e aí foi levantada a estátua equestre a D. Pedro IV, o «rei soldado!».


O taberneiro, ouvindo os bombos e a fanfarra, deixou a loja e veio à rua ver o espectáculo do Exército a desfilar.
Para grande surpresa reconhecera a pessoa do rei D. Pedro IV naquele oficial gadelhudo, que no dia anterior fora seu cliente e a quem tinha vendido «fiadas», todas as «fanecas, frescas, fritas» que havia no mosqueiro».
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m c santos leite

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