Francisco
um dia, em Gúbio, ouviu falar de um grande lobo que atacava
gente, pela serra onde o Povo pastoreava os rebanhos .
O
povo da aldeia, em crise, pediu ajuda a Francisco e, foram todos à
serra à cata do lobo.
Chamavam-no
em alta voz:
«-
Lobo! Lobo! Ó lobo! … e
tanto chamaram que o lobo apareceu, mostrando-se, como um rei sentado
no cimo do penedo maior.
Falara
Francisco, e fizera sentir toda a sua bondade, de mansinho, à
fera que, o ouvia sobranceiro como se estivera num trono.
«-
Lobo! Porque és tão mau? Porque castigas tanto este
povo tão bondoso!
«-
?»
«-
Lobo. Atacas as pessoas pela serra; atacas os rebanhos. Tu és
a «crise» para esta gente!
«-
Crise?» Logo interrogou o lobo.
«-
Lobo! Nós gostamos de ti e viemos para fazer contigo um
pacto!»
«-
?»
«-
!»
«-
Não me chames «lobo» chame-me «crise»!
Chamaste-me “Crise”! Daqui em diante serei “Crise”!
«-
?»
«-
Sou «Crise»! Sou «Crise! Não tornes a
chamar-me «lobo»!
Francisco
sentiu o lobo revoltado e viu-o pôr-se de pé. Parecia
maior.
E
o humilde Francisco aceitou logo e garantiu que não tornaria a
tratá-lo de outro modo.
«–
Diz lá o que queres! Se soubesses que hoje ainda não
arranjei nada para meter à boca?»
Francisco
apercebeu-se de que «Crise», se preparava para
uivar e chamar a alcateia.
Aproveitando
o momento de ver a bocarra aberta, com a mão direita,
levantada em “espada”, fez-lhe rapidamente uma Cruz e já
nem se ouviu mais o lobo acabar de uivar e de orelhas caídas,
rabo entre as pernas, calmamente, desceu do penedo.
«-
“Crise”! Sei que “passas mal”. A neve cobriu tudo sem deixar
nada para ti. Viemos falar contigo!
«-
…?»
«-
Queremos que faças connosco um pacto. Esta gente deixará
de fazer “batidas” e de te atacar. Quando desceres ao povoado e
dar te hão sempre que comer!
Basta
que não ataques as aldeias ou quem passa pela serra, nem faças
mal aos rebanhos.»
“Crise”
apercebendo-se de que agora o tratavam bem; movendo-se lentamente
desceu do penedo e foi deitar-se aos pés de Francisco que lhe
estendia a mão direita; “Crise” levantou também a
sua pata direita e depô-la na mão de Francisco selando
um “pacto de cavalheiros”.
«-
Vem connosco “Crise”. Vem connosco à aldeia e
arranjamos-te que comer!»
E
“Crise”, humilde veio à aldeia e lá lhe saciaram a
fome!
«Crise»
viveu em paz, em Gúbio, perto de Assis, durante dois anos;
visitava toda a aldeia casa a casa, e era por todos tratado como
amigo.
Isto
passou-se, no tempo de Francisco, já vai perto de oito séculos
mas, ainda hoje por lá se fala muito do “lobo de S.
Francisco”.
Depois
Francisco foi mudado para outras terras e Gúbio esqueceu
«Crise». Esquecido pelo Povo, voltou à
alcateia!”.
A
Paz tem seu preço, que era «o de alimentar o lobo»!
O
Povo esquecera-se de que dar de comer a quem tem fome; é
“pacto” de “Crise”, para sempre!
-
*)
- Note: Composto a partir de: «O Poverelo, S. Francisco de
Assis» – Ed. Franciscana.
**)
- Gúbio – Aldeia italiana por onde passou S. Francisco de
Assis.
M.
C. Santos Leite
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