São
Francisco estava já no fim de uma vida magra, doente e sofrida
quando os Irmãos da Porciúncula lhe prepararam a surpresa de uma
homenagem.
Nos
últimos tempos, cumprindo imperativos de idade, levantava-se tarde.
Certo dia quando, vinha da cela chegou à sala - uma sala grande em
terra batida que ele noutros tempos mandara construir - viu admirado
uma grande “mesa posta”: rica toalha, baixela do melhor, barro da
região e copos de vidro.
Mal
sabia que era tudo de empréstimo.
«-
Gente rica vem cá almoçar.
(Pensara que os Irmãos tinham cedido a sala para servir um almoço.
Tomando a escudela e o bordão saiu para dar a habitual volta, como
pedinte, pela vizinhança.
Á
hora marcada, tanto os Irmãos como os Convidados já ocupavam os
seus lugares à mesa. Só Frei Francisco faltava mas o costume, por
ele proposto era, que fossem comendo.
Entretanto
chegou com a escudela.
A
avaliar pelo luxo da mesa e decoração da sala, gente bem importante
devia ser.
– É
gente rica, pensava!
E começou de apresentar a escudela a quem estava à mesa.
-
Uma esmolinha?
Ao
segundo ou terceiro conviva notou que eram rostos conhecidos.
«-
Afinal “são pobres”,
confirmou e, deixando de pedir, seguiu até ao fundo da sala
sentando-se à lareira, a comer os “mendrugos” da escudela.
Tinham-lhe dado no peditório, míseras «côdeas de boroa, rapada,
bolorenta e dura!»
Tentaram
convence-lo a ir para a mesa mas, em vão; depois, em silêncio,
Irmãos e Convidados meditavam. Ficaram a meditar e a reparar em São
Francisco e nas côdeas de pedinte!
A
TV às primeiras horas de hoje falou-nos de novo episódio da
emigração clandestina, africana.
Na
Grécia um barco que se aproximava com emigrantes, teve problemas
junto à Ilha de “Cítara”.
Trezentas
e trinta pessoas em perigo entre elas quarenta mulheres e dez
crianças que num resgate difícil, e de várias horas, foram
recolhidas por um ocasional e milagroso petroleiro.
Nas
ilhas gregas os “chifons” continuam a esvoaçar. Cordas lânguidas
e os acordes dolentes da cítara continuam a tanger!
São
Francisco passou por cá há oitocentos anos e a “Cítara”, que
já era velha pelas ilhas gregas, continua a tanger.
-
Naufrágios e “mendrugos” sempre haverá! Petroleiros ocasionais
é que podem faltar!
Hoje
a vida vai difícil e pelo andamento, ninguém pense que está livre
de ir para as Ilhas gregas comer “mendrugos” a bordo de algum
petroleiro ocasional. Ferrugento!
m.c.
santos leite
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