quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Os “Mendrugos” de S. Francisco



São Francisco estava já no fim de uma vida magra, doente e sofrida quando os Irmãos da Porciúncula lhe prepararam a surpresa de uma homenagem.
Nos últimos tempos, cumprindo imperativos de idade, levantava-se tarde. Certo dia quando, vinha da cela chegou à sala - uma sala grande em terra batida que ele noutros tempos mandara construir - viu admirado uma grande “mesa posta”: rica toalha, baixela do melhor, barro da região e copos de vidro.
Mal sabia que era tudo de empréstimo.
«- Gente rica vem cá almoçar. (Pensara que os Irmãos tinham cedido a sala para servir um almoço. Tomando a escudela e o bordão saiu para dar a habitual volta, como pedinte, pela vizinhança.

Á hora marcada, tanto os Irmãos como os Convidados já ocupavam os seus lugares à mesa. Só Frei Francisco faltava mas o costume, por ele proposto era, que fossem comendo.
Entretanto chegou com a escudela.
A avaliar pelo luxo da mesa e decoração da sala, gente bem importante devia ser.
É gente rica, pensava! E começou de apresentar a escudela a quem estava à mesa.
- Uma esmolinha?
Ao segundo ou terceiro conviva notou que eram rostos conhecidos.
«- Afinal “são pobres”, confirmou e, deixando de pedir, seguiu até ao fundo da sala sentando-se à lareira, a comer os “mendrugos” da escudela. Tinham-lhe dado no peditório, míseras «côdeas de boroa, rapada, bolorenta e dura!»
Tentaram convence-lo a ir para a mesa mas, em vão; depois, em silêncio, Irmãos e Convidados meditavam. Ficaram a meditar e a reparar em São Francisco e nas côdeas de pedinte!

A TV às primeiras horas de hoje falou-nos de novo episódio da emigração clandestina, africana.
Na Grécia um barco que se aproximava com emigrantes, teve problemas junto à Ilha de “Cítara”.
Trezentas e trinta pessoas em perigo entre elas quarenta mulheres e dez crianças que num resgate difícil, e de várias horas, foram recolhidas por um ocasional e milagroso petroleiro.

Nas ilhas gregas os “chifons” continuam a esvoaçar. Cordas lânguidas e os acordes dolentes da cítara continuam a tanger!

São Francisco passou por cá há oitocentos anos e a “Cítara”, que já era velha pelas ilhas gregas, continua a tanger.
- Naufrágios e “mendrugos” sempre haverá! Petroleiros ocasionais é que podem faltar!

Hoje a vida vai difícil e pelo andamento, ninguém pense que está livre de ir para as Ilhas gregas comer “mendrugos” a bordo de algum petroleiro ocasional. Ferrugento!


m.c. santos leite

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