- O PANO DA CARAPUÇA


Chegados nós a esta altura do ano 1) logo notamos Governantes preocupados com reuniões, denotando que algo se passa.
Entretanto apercebemo-nos de que é o "Plano" ou "Lei de Meios" e o nervosismo extra é motivado pela aprovação dentro do prazo legal.
Foi num dia destes que me apercebi desta situação e me lembrei da velha "história do pano da carapuça" (2), que muitas vezes ouvi contar.
«Era uma vez um homem que precisava duma carapuça nova. Indo à feira comprou um retalho de muito boa fazenda e levou-a ao alfaiate.
Como queria uma boa carapuça e farta, perguntara ao feirante:
«- Mas será que dá bem para uma boa carapuça?»
«- Hó homem vá descansado que o pano chega bem; dá para duas carapuças e ainda sobra!»
De regresso a casa passou pelo alfaiate, deixaria o pano e recomendação de que queria a carapuça pronta daí a quinze dias.
Como o feirante lhe dissera que dava para duas carapuças, o seu espírito de economia impunha que se certificasse, junto do alfaiate, se o retalho não daria para três carapuças e assim ficaria com duas de reserva.
O alfaiate respondeu-lhe:
«- Dá para três e boas!»
Lembrou-se então dos filhos mais velhos que nunca tiveram carapuças.
«- E para quatro? Não daria para quatro carapuças?»
Aí, o alfaiate foi prudente e, antes de responder mediu o pano pelo braço; dobrou-o e virou dum lado e do outro; pensou bem e respondeu não, sem que torcesse um pouco o nariz.
O cliente entusiasmado não reparando na reticência, logo perguntou:
«- E cinco? Não chegará para cinco carapuças?»
Ficava a família servida de carapuças...
Aí o alfaiate já nem precisou de pensar mais e respondeu de imediato e, até com ênfase:
«- Dá! Dá! Dá sim, senhor..! Então não havia de dar»!
- !?!
«- Dá e dá bem!»
E o homenzinho foi-se contente da vida pensando nos filhos e na feira grande! Via-os já de carapuças novas, a estrear!
Na data aprazada lá estava no alfaiate, para receber a obra.
«- Então já estão prontas?» Perguntou ansioso.
Responde o alfaiate indo pela obra à oficina; lá nas traseiras.
Quando se discute o tal plano também é assim.
Parte-se de uma vultuosa importância que se destina uma grande obra; válida e muito necessária e projectada com largueza; mas logo vem um da direita lembrar a obra iniciada em anos anteriores e não concluída por falta de verba; vem outro da esquerda e recorda promessa feita aquando da campanha eleitoral e lembra o descontentamento que por lá vai.
Entretanto surgem outros com outras razões ponderosas e, cada um vai puxando a brasa para a sardinha!
Tinha ficado o cliente à espera, quando surge o alfaiate no limiar da porta, dedos apontados ao céu, e enfiada em cada dedo sua carapucinha!
«- Hò!  cinco carapucinhas!!!»
A história lembra o "Plano" e que o "dinheiro retalhado" de nada serve.
A história do pano da carapuça está correcta.
O Plano tem e cingir-se ao tamanho do pano e confortar a todos.
Com pouco pano contentar a todos não passando de «estragar o pano... e perder o feitio».

1) - O Plano é aprovado no Outono de cada ano.
2) - Encontrei este conto entre contos Cantábricos antigos... mais tarde descobri que Cervantes, no "D. Quichote", também se serviu.
                                                            M. C. Santos Leite

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