O NATAL
DE “IL POVERELLO”*)
Falar de Natal em Paz, durante
décadas reflecte ilusão.
Com vento ou com neve “choviam”
cartões de boas festas, telefonemas, SMS, e eram tantos que nem davam tempo para
saber de onde vinham ou a quem se ficava a dever resposta. Entre amigos e
clientes trocavam-se prendas: caixas de vinho ou de chocolates! Mandavam-se aos
vizinhos rabanadas, travessas de aletria, sonhos … especialidades da dona da
casa … o bolo-rei esgotava-se pelas lojas e o vinhos de preço saltava
generosamente das garrafas.
Este Novembro gélido e cru já lembra
a preparação do Natal! Já se preparam as prendas, para familiares e amigos, que
obrigam a contas e a cortes, em listas.
O Natal ainda vem longe mas, já se
corta nos “projectos”.
O Inverno insinua-se mais pesado e o
Natal fria realidade. Noutros tempos as ruas eram só luzes multicoloridas e
música; hoje o povo, deixara de
cantar.
Era Natal de ilusões; de coisas e
tudo em quantidade e qualidade.
Hoje continua a ouvir o sempre voltad disco da grafonola.
Nas vésperas de Natal aquecia-se a
casa para receber os que ainda andavam fora. No fogão a panela ia cozendo a
hortaliça e o bacalhau para a ceia. Preparava-se “molho
fervido”.
Os mais novos treinavam-se no “rapa,
tira, deixa, põe”; escabulhavam-se os pinhões, ou
davam os últimos retoques no Presépio que São Francisco por amor
recreara.
Diria que o Natal não deve regressar
à sua autenticidade sem lembrarmos São Francisco, “il
Poverelo”. *
São Francisco montara na serra
coberta de neve um Presépio naturalista que, cheio de significado e de encanto,
substituíra imagens por pessoas e animais
autênticos.
Um menino, nascido há pouco,
figurara de “Menino Jesus”; a própria mãe aconchegava-o ao peito como Maria
fizera. As ovelhinhas e os seus pastores, lembravam Belém. O coro da Capela da
Porciúncula *) imitou os Anjos cantando pelas alturas, «Glória in excelsis
Deo».
O povo da Porciúncula e das
vizinhanças - “Homens de boa vontade” - compareceu e a custo subiu a serra
branca de neve, acompanhando Francisco.
Na noite gélida o boi, a jumentinha
e as ovelhas, como em Belém, ajudaram a aquecer o Menino.
A celebração decorreu com
contentamento e foi grande o êxito deste primeiro Natal naturalista do Irmão
Francisco.
Na longínqua Belém o autêntico
Presépio foi é mais pobre.
Os Anjos e os pastores tinham sido
os primeiros a saber da «Boa Nova» pelos Anjos, e foram os primeiros a chegar.
Além dos trapinhos e do calor do boi, das ovelhas e da jumentinha, nada mais
havia com que assistir ao Deus Menino. A pobre manjedoura, e as palhinhas dos
animais, era quanto havia para receber Jesus; o
Messias, o Deus nascido da Virgem.
O Natal de luxos, de grafonolas e
pinheiros enfeitados, levaou quase dois milénios a
chegar e pouco ou nada tem a ver com o Natal de Jesus em Belém. O Presépio
que Francisco ajudou a recuperar a celebração.
O Natal nada tem a ver com luxos.
Quer-se celebrado em Família, em Paz e amor.
No desconforto da serra coberta de
neve celebrou S. Francisco seu Presépio.
As palhinhas da gruta, e o calor dos
animais na serra, valeram ao Menino.
O Natal antes de mais deve ser
aquecido pela amizade, aconchego e “calor” do lar.
Sobretudo pela concórdia “entre
Homens de boa vontade”.
É isso que torna o Natal mais feliz.
É isso que faz com que todos sintam que da Virgem Maria acaba de nascer o
Salvador!
*)
- “Il Poverello”. Célebre apelido atribuído a São Francisco, “o
pobrezinho”.
**) –
Porciúncula é a Capela e localidade onde São Francisco inicialmente instalara os
seus primeiros freires.
2008-11-05
Sem comentários:
Enviar um comentário