terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Antecipando o”Natal” de 2013

O NATAL DE “IL POVERELLO”*)
Falar de Natal em Paz, durante décadas reflecte ilusão.
Com vento ou com neve “choviam” cartões de boas festas, telefonemas, SMS, e eram tantos que nem davam tempo para saber de onde vinham ou a quem se ficava a dever resposta. Entre amigos e clientes trocavam-se prendas: caixas de vinho ou de chocolates! Mandavam-se aos vizinhos rabanadas, travessas de aletria, sonhos … especialidades da dona da casa … o bolo-rei esgotava-se pelas lojas e o vinhos de preço saltava generosamente das garrafas.

Este Novembro gélido e cru já lembra a preparação do Natal! Já se preparam as prendas, para familiares e amigos, que obrigam a contas e a cortes, em listas.
O Natal ainda vem longe mas, já se corta nos “projectos”.
O Inverno insinua-se mais pesado e o Natal fria realidade. Noutros tempos as ruas eram só luzes multicoloridas e música; hoje o povo, deixara de cantar.
Era Natal de ilusões; de coisas e tudo em quantidade e qualidade.
Hoje continua a ouvir o sempre voltad disco da grafonola.


Nas vésperas de Natal aquecia-se a casa para receber os que ainda andavam fora. No fogão a panela ia cozendo a hortaliça e o bacalhau para a ceia. Preparava-se “molho fervido”.
Os mais novos treinavam-se no “rapa, tira, deixa, põe”; escabulhavam-se os pinhões, ou davam os últimos retoques no Presépio que São Francisco por amor recreara.
Diria que o Natal não deve regressar à sua autenticidade sem lembrarmos São Francisco, “il Poverelo”. *

São Francisco montara na serra coberta de neve um Presépio naturalista que, cheio de significado e de encanto, substituíra imagens por pessoas e animais autênticos.
Um menino, nascido há pouco, figurara de “Menino Jesus”; a própria mãe aconchegava-o ao peito como Maria fizera. As ovelhinhas e os seus pastores, lembravam Belém. O coro da Capela da Porciúncula *) imitou os Anjos cantando pelas alturas, «Glória in excelsis Deo».
O povo da Porciúncula e das vizinhanças - “Homens de boa vontade” - compareceu e a custo subiu a serra branca de neve, acompanhando Francisco.
Na noite gélida o boi, a jumentinha e as ovelhas, como em Belém, ajudaram a aquecer o Menino.
A celebração decorreu com contentamento e foi grande o êxito deste primeiro Natal naturalista do Irmão Francisco.

Na longínqua Belém o autêntico Presépio foi é mais pobre.
Os Anjos e os pastores tinham sido os primeiros a saber da «Boa Nova» pelos Anjos, e foram os primeiros a chegar. Além dos trapinhos e do calor do boi, das ovelhas e da jumentinha, nada mais havia com que assistir ao Deus Menino. A pobre manjedoura, e as palhinhas dos animais, era quanto havia para receber Jesus; o Messias, o Deus nascido da Virgem.

O Natal de luxos, de grafonolas e pinheiros enfeitados, levaou quase dois milénios a chegar e pouco ou nada tem a ver com o Natal de Jesus em Belém. O Presépio que Francisco ajudou a recuperar a celebração.
O Natal nada tem a ver com luxos. Quer-se celebrado em Família, em Paz e amor.
No desconforto da serra coberta de neve celebrou S. Francisco seu Presépio.
As palhinhas da gruta, e o calor dos animais na serra, valeram ao Menino.
O Natal antes de mais deve ser aquecido pela amizade, aconchego e “calor” do lar.
Sobretudo pela concórdia “entre Homens de boa vontade”.
É isso que torna o Natal mais feliz. É isso que faz com que todos sintam que da Virgem Maria acaba de nascer o Salvador!

*) - “Il Poverello”. Célebre apelido atribuído a São Francisco, “o pobrezinho”.
**) – Porciúncula é a Capela e localidade onde São Francisco inicialmente instalara os seus primeiros freires.

2008-11-05


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